O desconhecido que habita em mim.

Por que muitas vezes me esqueço de coisas que deveriam estar permanentemente na minha memória ? Me esqueço de datas importantes, de nomes corriqueiros, executar tarefas do meu cotidiano ? E porque não esqueço de situações que minha consciência me pede ferozmente para não recorda-las ? Anos se passam e elas estão ali, à espreita. Parecem mais fortes do que eu e quanto mais me esforço para lembra-las ou esquece-las, mais elas batem à porta da minha casa.

Porque digo que quero fazer algo como mudar de emprego, escolher uma profissão, pagar as contas em dia, me relacionar com as pessoas, namorar ou sair de situações insatisfatórias, e muitas outras que fazem parte da vida,  e eu simplesmente não consigo?

Por que estou sempre me relacionando com o mundo e com aqueles que me cercam  da mesma forma e quando digo a mim mesmo que farei diferente da próxima vez, acabo repetindo exatamente a mesma circunstância ?

Há algo em mim que escapa a minha racionalidade. Não domino e nem controlo. “O eu não é senhor em sua própria casa”, como diria Freud. Foi a partir do encontro com esse desconhecido denominado inconsciente que a psicanálise pode ser “inventada”.

Foi a partir desse bom encontro de desvendar esse quebra cabeça que se deu minha escolha enquanto técnica de trabalho. Freud já havia dito que não descobriu o inconsciente. Sua genialidade residiu no fato de transforma-lo em método de tratamento. “Os poetas e os filósofos descobriram o inconsciente antes  de mim.” – já dizia. Por  esse motivo, decidi acolher a filosofia e a literatura que que estão em constante diálogo com a psicanálise, uma vez que ela bebeu dessas fontes que contribuíram largamente para a sua construção.

Em se tratando de inconsciente, que não cessa jamais de insistir, a obra de Freud é  inacabada para que possamos continuar a desejar acessa-lá, interroga-la e assim,  imortaliza-la. Eis o seu legado. Eis a minha escolha.

Simone Ferreira
Psicóloga & Psicanalista
CRP 05/38722